quarta-feira, 20 de março de 2019

Monólogo de Orfeu

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Monólogo de Orfeu

Mulher mais adorada!
Agora que não estás, deixa que rompa

O meu peito em soluços!
Te enrustiste em minha vida,
e cada hora que passa
É mais por que te amar
a hora derrama o seu óleo de amor em mim, amada.

E sabes de uma coisa?
Cada vez que o sofrimento vem,
essa vontade de estar perto, se longe
ou estar mais perto se perto
Que é que eu sei?
Este sentir-se fraco,
o peito extravasado
o mel correndo,
essa incapacidade de me sentir mais eu, Orfeu;
Tudo isso que é bem capaz
de confundir o espírito de um homem.

Nada disso tem importância
Quando tu chegas com essa charla antiga,
esse contentamento, esse corpo
E me dizes essas coisas
que me dão essa força, esse orgulho de rei.

Ah, minha Eurídice
Meu verso, meu silêncio, minha música.
Nunca fujas de mim.
Sem ti, sou nada.
Sou coisa sem razão, jogada, sou pedra rolada.
Orfeu menos Eurídice: coisa incompreensível!
A existência sem ti é como olhar para um relógio
Só com o ponteiro dos minutos.
Tu és a hora, és o que dá sentido
E direção ao tempo,
minha amiga mais querida!

Qual mãe, qual pai, qual nada!
A beleza da vida és tu, amada
Milhões amada! Ah! Criatura!
Quem poderia pensar que Orfeu,
Orfeu cujo violão é a vida da cidade
E cuja fala, como o vento à flor
Despetala as mulheres -
que ele, Orfeu,
Ficasse assim rendido aos teus encantos?

Mulata, pele escura, dente branco
Vai teu caminho
que eu vou te seguindo no pensamento
e aqui me deixo rente quando voltares,
pela lua cheia
Para os braços sem fim do teu amigo

Vai tua vida, pássaro contente
Vai tua vida que estarei contigo!
Vinicius de Moraes

quarta-feira, 8 de maio de 2013

silencios


largos silencios interpretativos,
adoçados por funda nostalgia,
balada de consolo e simpatia
que os sentimentos meus torna cativos;


 harmonia de doces lenitivos,
sombra, segredo, lagrima, hamornia
da alma serena, da alma fugidia
nos seus vagos espasmis sugestivos;

Ó silencio! ó candidos desmaios,
vacuos fecundos de celeste raios
de sonhos, no mais limpido cortejo...
Eu vos sinto os misterios insodáveis,
como de estranhos anjos inefaveis
o glorioso esplendor de um grande beijo!
CRUZ E SOUSA

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Hamlet



 Hamelet

Ser ou não ser eis a questão!
O que é mais nobre para a mente sofrer
Os dardos e setas de destino cruel
Ou pegar em armas contra um mar de desgraças
E pela resistência pôr-lhes fim? Morrer, dormir;
Nada mais? E com o sono, dizem, terminamos
O pesar do coração e os inúmeros naturais conflitos
Da carne herdados. Eis um epílogo
Devotamente desejado. Morrer, dormir.
Dormir - sonhar talvez. Eis a dificuldade.
Nesse sono da morte, que sonhos virão
Quando nos libertarmos do invólucro mortal
Devemos nos deter. Aí está a reflexão
Que dá à desventura uma vida tão longa.
Pois quem suportaria os insultos e desdéns do tempo,
A injúria do opressor, a afronta do soberbo,
As angústias do amor desprezado, a morosidade da lei,
As insolências do poder, e as humilhações
Que o mérito paciente tem do indigno,
Quando ele próprio pudesse encontrar repouso
Com uma lâmina nua?
Quem suportaria tão duras cargas,
Gemendo e suando sob uma vida penosa,
Se não fosse o temor de algo após a morte -
Região misteriosa, fronteira de onde
Nenhum viajante retornou - confundindo a vontade,
E impelindo-nos a suportar os males que nos afligem
Em vez de nos lançarmos a outras que não sabemos?
Assim nossa consciência nos faz covardes em tudo.
E assim a cor nativa de nossas resoluções
Se debilita na pálida sombra do pensamento,
E as empreitadas de maior alento e importância
Com semelhantes reflexões desviam seu curso
E perdem o nome de ação.
O que é mais nobre para a mente sofrer
Os dardos e setas de destino cruel
Ou pegar em armas contra um mar de desgraças
E pela resistência pôr-lhes fim? Morrer, dormir;
Nada mais? E com o sono, dizem, terminamos
O pesar do coração e os inúmeros naturais conflitos
Da carne herdados. Eis um epílogo
Devotamente desejado. Morrer, dormir.
Dormir - sonhar talvez. Eis a dificuldade.
Nesse sono da morte, que sonhos virão
Quando nos libertarmos do invólucro mortal
Devemos nos deter. Aí está a reflexão
Que dá à desventura uma vida tão longa.
Pois quem suportaria os insultos e desdéns do tempo,
A injúria do opressor, a afronta do soberbo,
As angústias do amor desprezado, a morosidade da lei,
As insolências do poder, e as humilhações
Que o mérito paciente tem do indigno,
Quando ele próprio pudesse encontrar repouso
Com uma lâmina nua?
Quem suportaria tão duras cargas,
Gemendo e suando sob uma vida penosa,
Se não fosse o temor de algo após a morte -
Região misteriosa, fronteira de onde
Nenhum viajante retornou - confundindo a vontade,
E impelindo-nos a suportar os males que nos afligem
Em vez de nos lançarmos a outras que não sabemos?
Assim nossa consciência nos faz covardes em tudo.
E assim a cor nativa de nossas resoluções
Se debilita na pálida sombra do pensamento,
E as empreitadas de maior alento e importância
Com semelhantes reflexões desviam seu curso
E perdem o nome de ação.